sexta-feira, 2 de junho de 2006

As Alfarrobas...


O que é prometido é de vidro...

Uma vez, há muitos anos, talvez em idade de ciclo preparatório ou mesmo de final de escola primária, fui passar a tarde na casa do "Ruizito". As mães telefonaram-se e as coisas foram combinadas. Lembro-me que estivemos a brincar no jardim - naquele que ficava nas traseiras da casa, sobranceiro à EN 109. Uma das brincadeiras foi saltar repetidamente de cima de um muro para um vão de escada onde havia areia, por trás do anexo que muito mais tarde viria a ser o nosso "Quartinho 1". De vez em quando interrompiamos a brincadeira, faziamos incursões dentro de casa e logo voltavamos para o jardim.

Numa dessas incursões, em que fomos à sala de jantar, descobri que no centro da mesa havia um "arranjo" de plantas e frutos secos que incluia alfarrobas, fruto que eu adorava (nessa altura passava sempre férias no Algarve e por isso estava muitíssimo familiarizado com aquele fruto). Perguntei ao Rui se podia comer uma e ele disse-me que sim.

Voltamos ao jardim. Mais correrias, mais saltos, mais incursões à sala... Ía pedindo ao Rui se podia comer mais alfarrobas e ele era sempre afirmativo. No entanto, confesso que elas não me sabiam exactamente como as do Algarve. Tinham um sabor esquisito. Por isso, a última que tirei, em vez de a comer, entalei-a entre o cinto e as calças. E a brincadeira continuou...

Ao fim da tarde, o meu pai foi buscar-me. Despedidas na rua, o meu pai a falar com a D. Elizabete, eu a combinar novas brincadeiras com o Ruizito, blá, blá, blá, até que o meu pai diz: "deixa-me sacudir-te. Estás cheio de areia e não entras no carro nesse estado". E sacudiu-me, em frente à D. Elizabete. Quando menos se esperava, cai uma alfarroba ao chão! "O que é isto?" Fiquei azul, e lá contei uma história. A D. Elizabete riu-se, disse para eu ficar com a alfarroba e lá fui eu com o meu pai para casa, completamente acabrunhado.

Em casa: sermão do pai, parte 2; sermão da mãe - parte 1. Castigo: "Vais a casa da D. Elizabete devolver a alfarroba e pedir desculpa pelo que fizeste!". OK! Que remédio... E assim foi...

- "D. Elizabete, vinha cá pedir desculpa por ter tirado esta alfarroba e ter comido as outras..."
- "Comeste??!!" Mas as alfarrobas estão envernizadas!!!"

Não me recordo exactamente qual foi a minha reacção na altura. O certo é que devo ter compreendido porque raio é que as alfarrobas me sabiam tão mal!

1 comentário:

Rui disse...

Uma delícia esta estória! Talvez seja pelo tempero à base de verniz ;)
Obrigado por a partilhares!