domingo, 30 de novembro de 2008

À espera

Zurique. 16.30h
Estou a levar uma seca monumental numa escala que me trouxe a este aeroporto. E a este pais, onde cheguei e de onde parti mais vezes do que qualquer outro, na razao inversamente proporcional do que realmente conheci dele. Estes periodos entre voos sao sempre uma tortura em lume brando. A sensacao de estarmos obrigados a ficar numa bolha de vidro, invariavelmente no meio de um pais qualquer, a assistir as deambulacoes de outros passageiros como nos, acossados pelo consumismo de freeshop e por essas listas de destinos que nao param nem nunca mais vao parar enquanto houver humanidade.
As escalas sao uma especie de purgatorio dos viajantes. E dao vontade de preferir o inferno.
Algumas vezes, nestes momentos de estupidez, experimentei esconder um papel num qualquer esconderijo do aeroporto pela graca de o reencontrar, passadas semanas ou meses, no mesmo sitio. Normalmente um pensamento simples (ou nao) que pudesse ter repercussão num outro momento. Um recado do passado a tentar uma provocacao. Gerar outra coisa. - O choque entre um emissor e um receptor que so nao e' exactamente a mesma pessoa devido a accao do tempo e das circunstancias. Melhor ainda porque o segundo nao se lembra do q escreveu o primeiro.
Os aeroportos nao tem muitos recantos que se prestem a este jogo, por isso nao e' facil. Muitas vezes o minusculo papel desaparece. O ultimo, em Turim, era um recado para outra pessoa, que acabou por mudar o voo, e que tentei recuperar cinco meses depois. Esse, tenho a certeza que foi lido. Mas mais nao sei.
Neste aeroprto, onde ja vim muitas vezes, nao me lembro agora onde escondi um pensamento do passado (te-lo-ei feito?). E uma vez mais so me resta especular se ele chegou a gerar alguma coisa ao ser lido por alguem (se foi), se foi banido com o resto dos detritos da passagem de outros viajantes, ou se continua por ai, entalado num minusculo sitio secreto. À espera.
Como eu.

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