domingo, 30 de novembro de 2008

À espera

Zurique. 16.30h
Estou a levar uma seca monumental numa escala que me trouxe a este aeroporto. E a este pais, onde cheguei e de onde parti mais vezes do que qualquer outro, na razao inversamente proporcional do que realmente conheci dele. Estes periodos entre voos sao sempre uma tortura em lume brando. A sensacao de estarmos obrigados a ficar numa bolha de vidro, invariavelmente no meio de um pais qualquer, a assistir as deambulacoes de outros passageiros como nos, acossados pelo consumismo de freeshop e por essas listas de destinos que nao param nem nunca mais vao parar enquanto houver humanidade.
As escalas sao uma especie de purgatorio dos viajantes. E dao vontade de preferir o inferno.
Algumas vezes, nestes momentos de estupidez, experimentei esconder um papel num qualquer esconderijo do aeroporto pela graca de o reencontrar, passadas semanas ou meses, no mesmo sitio. Normalmente um pensamento simples (ou nao) que pudesse ter repercussão num outro momento. Um recado do passado a tentar uma provocacao. Gerar outra coisa. - O choque entre um emissor e um receptor que so nao e' exactamente a mesma pessoa devido a accao do tempo e das circunstancias. Melhor ainda porque o segundo nao se lembra do q escreveu o primeiro.
Os aeroportos nao tem muitos recantos que se prestem a este jogo, por isso nao e' facil. Muitas vezes o minusculo papel desaparece. O ultimo, em Turim, era um recado para outra pessoa, que acabou por mudar o voo, e que tentei recuperar cinco meses depois. Esse, tenho a certeza que foi lido. Mas mais nao sei.
Neste aeroprto, onde ja vim muitas vezes, nao me lembro agora onde escondi um pensamento do passado (te-lo-ei feito?). E uma vez mais so me resta especular se ele chegou a gerar alguma coisa ao ser lido por alguem (se foi), se foi banido com o resto dos detritos da passagem de outros viajantes, ou se continua por ai, entalado num minusculo sitio secreto. À espera.
Como eu.

sábado, 29 de novembro de 2008

Le Grand Détournement a.k.a. La Classe Américaine

"Le train de tes injures roule sur le rail de mon indifférence."

"La Classe Américaine" ou "Le Grand Détournement" é um filme de 1993 realizado por Michel Hazanavicius e Dominique Mézerette composto de extratos de velhos filmes da Warner montados e dobrados por forma a criarem um novo filme.

Este filme de culto nunca teve edição comercial e apenas teve duas exibições oficiais (uma em 1993 e outra em 2004) . Alguns trechos, como este, circulam actualmente na internet.

Nas comemorações dos seus 100 anos, a Warner teve a imprudente ideia de autorizar o Canal+ (França) a utilizar extractos do seu catálogo (cerca de 3000 títulos) com vista a realizar um pequeno filme comercial. Ainda assim com algumas pequenas recomendações: não tocar, entre outros, nem no Clint Eastwood nem no Stanley Kubrick. Perante tal possibilidade foi feito este filme, dobrado pelas vozes que em França os actores do filme são conhecidos.

(Há muito mais info sobre este filme na net, como é evidente. Esta foi retirada da wikipedia franc)

Li hoje

"O homem que pagou 1300 euros para se chamar Camelo"

Um empresário de Santa Marta de Portuzelo, em Viana do Castelo, concretizou em Setembro o sonho de se chamar Camelo. Espera agora, ansiosamente, a chegada do seu cartão de cidadão onde já constará o insólito apelido. "Desde 17 de Setembro que já sou um verdadeiro Camelo", disse, à Lusa, com orgulho e humor.Até aqui, o empresário de 65 anos (dono do restaurante O Camelo na sua terra natal) chamava-se apenas António Martins da Rocha, mas a partir de agora, após um processo burocrático que durou mais de oito meses e que lhe custou 1300 euros, já assina António Martins da Rocha Camelo. "Estava na Feira da Gastronomia de Santarém quando fui notificado de que o Ministério da Justiça tinha ratificado o meu novo apelido. Fiquei tão contente que vim logo a Viana do Castelo, pedir a minha certidão de Camelo." "Pedi-a a 5 de Novembro, mas ainda não chegou. Vou lá praticamente todos os dias porque não vejo a hora de ter em mãos o meu verdadeiro 'atestado' de Camelo", acrescenta. Até porque este é um apelido que tem a virtude de transformar um eventual insulto numa "cordial" saudação: "Imagine que vou a conduzir, faço uma manobra perigosa e alguém do lado me grita 'camelo'. Em vez de ficar ofendido, eu limito-me a cumprimentá-lo também." António Martins da Rocha nasceu a 15 de Fevereiro de 1943, mas os pais foram "terminantemente proibidos" por um padre amigo da família de o registar como Camelo, que era o último apelido da mãe, cometendo ele mesmo o mesmo erro ao não dar o apelido de Camelo aos seus dois filhos. "Aí sim, aí é que eu fui um grande camelo", salienta. No entanto já conseguiu "meter" o apelido nos nomes das duas netas. Entretanto, o empresário espera pela prenda mais desejada: um verdadeiro animal de duas bossas que comprou no Senegal, por 3750 euros, e que viajará para Portugal de avião.
n'"O Público"

Lindo.
Faz-me lembrar uma história muito antiga.

Afonso Rema

É sempre bom ver os símbolos e os sinais da nossa adolescência ganharam estatuto. Neste caso, o prof. Afonso Rema, que foi distinguido pelo prémio Mérito de Carreira. Reformou-se. Quantos professores apaixonados haverá ainda como ele?

http://www.min-edu.pt/np3/2859.html

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O que pensam dos downloads ilegais?

Sois utilizadores?

-a) dói-vos a consciência?
- b) apesar disso, têm benefícios?

Têm tempo para ouvir tudo aquilo que abusam anonimamente?

Estas são as dúvidas de quem nasceu no século XX e sobrevive na 1ª década do XXI.

No meu tempo, havia as edições portuguesas e as outras, as que se traziam de fora, ou se pediam a quem ia fora, ou se pagavam a peso de ouro em 1 - 2 discotecas. Hoje, até em Plutão se pode descarregar a versão remix daquele grupo de Irkutsk cujas mães nem sabem que eles tocam.

Não é o mundo que é fabuloso, somos nós.

Focus


Mais uma das bandas que o P. Gandra me deu a conhecer.
Coloco-a aqui porque a minha actual série de culto: "My name is Earl" traz sempre uma músiquinha que adivinha ser do gosto do público alvo. Hoje o Earl dava em maluco na prisão. A música de fundo era esta.

Almost Grown


Alguém se lembra?

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Sounds of Silence

Na sequência de um post anterior:

The Sound Of Silence

P. Simon, 1964


Hello darkness, my old friend

I've come to talk with you again

Because a vision softly creeping

Left its seeds while I was sleeping

And the vision that was planted in my brain

Still remains

Within the sound of silence


In restless dreams

I walked alone

Narrow streets of cobblestone '

Neath the halo of a street lamp

I turn my collar to the cold and damp

When my eyes were stabbed by the flash of a neon light

That split the night

And touched the sound of silence


And in the naked light I saw

Ten thousand people maybe more

People talking without speaking

People hearing without listening

People writing songs that voices never shared

No one dared

Disturb the sound of silence"Fools," said I, "you do not know

Silence like a cancer grows

Hear my words that I might teach you

Take my arms that I might reach you"

But my words like silent raindrops fell

And echoed in the wells of silence


And the people bowed and prayed

To the neon god they made

And the sign flashed out its warning

In the words that it was forming


And tenement halls

And whispered in the sound of silence

Batatinhas

O que é um escultor?
No tempo do Rodin ou do Soares dos Reis, a resposta parecia mais fácil. Muito simplesmente porque aquilo que era considerado escultura era claramente balizado (começando pelos próprios materiais e linguagem) e não só o domínio da técnica como o acesso eram restritos. De uma forma geral, as formas de expressão são actualmente bem menos espartilhadas num género específico (são até por vezes “transdisciplinares”) e não parecem ser os materiais, as técnicas ou até os métodos que inibem a pretensão de comunicar. Esta possibilidade de democratização e, de certa forma, por consequência, de aparente possibilidade de ser artista à margem da aprovação da elite, levanta obviamente a questão da triagem. O que é um artista? Quem é artista? Quem é bom artista? Já me tinha colocado questões idênticas relativamente à minha área, mas confesso que sempre tropecei alegremente na quase novidade desta possibilidade de novo século que é a questão da acessibilidade e descansou-me recordar que a fotografia, por exemplo, encontrou o seu caminho durante o século XX e parece estar razoavelmente preparada para lidar com uma nova e gigantesca vaga de acessibilidade e simultaneamente uma alteração de fundo nas suas técnicas.
E então, o que é um escultor? Assim parece simples: aquele que faz esculturas. E o que é uma escultura? Uma obra produzida por um escultor. Porreiro. E o que é a disciplina a que se chama Escultura? É uma das artes plásticas cujo meio de expressão é o volume e a forma. Para um fotógrafo a definição também será pacífica. E vamos por aí fora, surfando na espuma dos dicionários e abrindo a possibilidade universal de se ser artista. Parece-me bem. Muito fresco, novo e conveniente.
Mas então lembro-me de uma coisa que já acontece há séculos: escrever qualquer pessoa escreve, o que torna potencialmente escritor todo o individuo que não seja analfabeto e que consiga transpor uma ideia para a linguagem das letras e das palavras. Ora, isso parece não acontecer exactamente assim. Parece haver uma diferenciação entre a análise das capacidades individuais e do alcance do discurso de quem produz texto e de quem produz esculturas ou fotografias. E esta desproporcionalidade faz-me voltar ao início e repensar as definições e a aferição de qualidade.
À distância, o mundo do Bernini ou do Dante parecia muito mais simples. Mas agora é muito mais divertido e pequeno. Assim de brincar.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Pook is here


In 1958 Burroughs was arrested in New York for writing "Ah Pook is Here" on a subway wall, for which Simon and Garfunkel later sang, "The words of the prophet are written on the subway walls and tenement halls".


"And the people bowed and prayed To the neon god they made And the sign flashed out its warning In the words that it was forming And the sign said "The words of the prophets are written on the subway walls And tenement halls And whispered in the sound of silence."


Ah Pook is Here was a collaboration between author William Burroughs and artist Malcolm Mc Neill. It began in 1970, when Burroughs was living in London and Mc Neill was in his final year of art school. It first appeared under the title The Unspeakable Mr. Hart as a comic strip in the English magazine Cyclops. When Cyclops ceased publication, Burroughs and Mc Neill decided to develop the concept as a book.After a year of research and preliminary design the text of the book had expanded from 11 pages to 50, and a complete mockup had been produced. By this point, the work had been renamed Ah Puch is Here in reference to the Mayan Death God. Straight Arrow Books in San Francisco agreed to publish the proposed work in 1971 as a "Word/Image novel" which was to comprise 120 pages, some of integrated text and image, some of text alone and some which featured only pictures.In 1973, Mc Neill moved to San Francisco from London to finish the project. However, the small advance proffered by the publisher made any more than a few months of working full-time on the project impossible, and when Straight Arrow closed in 1974 the book was without a publisher. Nevertheless, Mc Neill moved to New York in 1975 to rejoin Burroughs and continue the work. They were unable to find another publisher and after seven years on and off, the project was finally abandoned. It was subsequently published in 1979 in text form only under the original title of Ah Pook is Here.Burroughs reads from Ah Pook is Here on his 1990 recording Dead City Radio; this recording, in turn, formed the soundtrack to the animated short Ah Pook is Here directed by Philip Hunt.


segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Dia 22 de Novembro

Segundo a Wikipedia:
November 22 is the 326th day of the year (327th in leap years) in the Gregorian calendar. There are 39 days remaining until the end of the year. Uma verdade inconveniente!
XX
1963. Lá se foi o Kennedy
1968. Chegou um album novo
X

sábado, 22 de novembro de 2008

Música

Music, in the best sense, does not require novelty; no, the older it is, and the more we are accustomed to it, the greater its effect.

Johann Wolfgang von Goethe

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Kaki


Só sei dizer duas palavras em japonês. Uma é Obrigado. Que é aquela que qualquer maçador anseia por explicar a um estrangeiro incauto. A outra é o nome de um fruto. – Quem me ensinou foi a Xaninha, e foi a maior consequência que tive dos estudos de japonês dela.
Sempre que passo de comboio pela Madalena (há já muitos anos que não cruzo o apeadeiro sem ser assim), lembro-me dos melhores diospiros do mundo. A mãe do Sílvio guardava-me uns, mesmo muito tempo depois de ter migrado para o sul. Nunca em lado nenhum comi diospiros como aqueles. E sempre que chega esta época do ano volta-me à memória a imagem daqueles pratos pesados e antigos, do som do relógio de parede, da mesa posta para o lanche e da expressão da mãe do Sílvio em pé a perguntar depois de cada um: “Gostou?”
Muito. Arigato.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Em direcção às estrelas


Às vezes vezes vemos filmes pelo género (uma temporada de westerns ou terror, por ex.), por realizador ou por causa de um actor em particular. Há uns anos atirava-me para a Cinemateca cada vez que havia um filme com a Gene Tierney, por nada de especial, porque me fazia sonhar :)
E por causa do trabalho de imagem, pus-me ontem a ver um filme a que nunca tinha dado atenção. O director de fotografia do filme é o Slawomir Idziak que fez o "Décalogo", "A Dupla Vida de Veronique" e o "Blue" do Kieslowski, entre outros. Conheci-o recentemente na Dinamarca e irei reencontrá-lo para a semana na Polónia. Fez o último Harry Potter, que não vi, e com tamanho salto entre sistemas de produção não quis deixar de ver os seus últimos filmes, não vá mais tarde ficar com alguma pergunta que lhe podia ter feito.
O filme, ficção científica, chama-se "Gattaca"(1997). É muito cuidado estéticamente. Brinca com o Frank Lloyd Wright, o design dos 50 e a engenharia espacial. Faz discorrer uma trama soft, de tipo policial, para nos falar da predestinação, da autodeterminação, da identidade e do que nos faz sonhar. As estrelas, de que somos feitos.
Ontem estava com o metaphysic mode em standby, tinha tido um dia arisco e doce, com episódios de montanha russa desde as 7 da manhã e preparava-me para um mergulho de veludo no mundo das formas para me entregar ao sono mortificante. A meio da noite vejo-me a Àgua das Pedras e a ruminar para a frente e para trás.

Distraí-me e agora tenho de o rever.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Noites sem nome

Noites sem nome, do tempo desligadas,
Solidão mais pura do que o fogo e a água,
Silêncio altíssimo e brilhante.

As imagens vivem e vão cantando libertadas
E no secreto murmurar de cada instante
Colhi a absolvição de toda a mágoa.



Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

On sait jamais...

Sim. Estive numa festa animada por estes senhores. Que braveza!!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Qual é a função do apostrofo?

clica pare leres


da Cristina

domingo, 9 de novembro de 2008

Livro cor-de-rosa - PROCURA-SE

Haverá algum excêntrico que tenha guardado estes anos todos o livro de francês do 10º ano (ou 11º)?
Pois.
Eu procuro esse livro. E não o encontro.
Tinha capa rosa, e umas riscas, se não me engano. Foi escrito pelo "Rolhas" (de seu verdadeiro nome: Fernando Artur Santos). Já não o vejo, naturalmente, há mais de 20 anos.
Chamava-se "Chez eux, les français".
Fico eternamente agradecido a quem se der ao trabalho de fazer uma incursão no sotão :)
(se virem uns exemplares do "Ping-Pank", seriam benvindos por aqui).
Obrigado

sábado, 8 de novembro de 2008

Finalmente conheci-a

A Pequena e Triste Sereia. Num estranho dia de sol e chuva. Lindo.
Desde miúdo que queria ver de perto a Lille Havfrue. Sempre a achei linda e singular, mesmo que melancólica, a ver os barcos que passam.
A estátua foi uma encomenda do presidente da fábrica de cerveja Carlsberg e inspirada na versão de ballet de A Pequena Sereia (segundo o original de Hans Christian Andersen), sobre uma sereia que se apaixona por um princípe. A história original é bem mais trágica do que a versão da Ariel (da Disney): em nome do amor, a pequena sereia abdica da própria existência e desaparece nas águas em forma de espuma do mar.