segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Agora que falámos nele, há uns post-its atrás



Esse grande isolino com que nós convivemos e que era grande demais para o conseguirmos abarcar.

8 comentários:

Anónimo disse...

Nunca foi meu prof, mas recebi em tempos como "herança" um desenho em tinta da china com mais de 50 anos que foi comprado pelo meu avó a um "senhor que desenhava muito bem". Descobri, pela assinatura que era dele e fiquei todo contente.
Pelo que ouvi de vos, era um mestre, dos verdadeiros! E hoje em dia, pessoas como ele fazem muita falta!!!!

Rui disse...

Também não o tive como prof. Talvez me tivesse ajudado a ver para além da ausência de sobrancelhas e dos tacões esquisitos.
Gostava dos desenhos que conhecia e mesmo que não me demorasse muito neles apreciava a denúncia social e a força que tinham aqueles rostos e sobretudo as mãos e os pés das figuras. Impressões juvenis que relembrei mais tarde ao ver Júlio Rezende, Picasso, Manuel Tiago... e ao descobrir o neo-realismo.
Hoje percebo melhor. O balanço da adolescência é feito também destas coisas. Se voltasse atrás talvez tentasse percebê-lo ao vivo.
Ainda assim, não passaram despercebidos na altura o sentido de humor e a elevação de espírito do "cartaz" da "Escola Aberta ao Meio" (coisa que parece não ter acontecido mais recentemente com um determinado conselho directivo, ao que consta - veja-se Post "Pintando..." de 18 Set.).
Vou escarafunchar o mais que puder para postar aqui brevemente esse irónico desenho do mestre.

Rui disse...

O Artur G. referiu-se durante um almoço, em que estavamos alguns ex-alunos da ESV presentes, à "cobertura" tranquila que nos era dada por muitos dos profs que tinhamos na altura... Interessante, o tema.
Na verdade o estímulo à "irreverência" juvenil que se manifestava nas diversas formas de expressão que grande parte de nós praticava, vinha muitas vezes de elementos do corpo docente (a arrepio do imaginário da época: "The Wall", dos Pink Floyd).
Este à-vontade parece-me hoje realmente extraordinário. E o cúmulo disso talvez seja precisamente o episódio que o Artur recordou: um famoso jogo de bola que parou a escola.
Mas este tema ainda dará um post!... (Avança, Artur!!!)

Anónimo disse...

Hei-de avançar. Ultimamente não tenho escrito nada, nem publicado nada, apesar de ser uma das minhas actividades preferidas.

Mas quanto a Isolino Vaz, de quem fui aluno, gostaria de recordar aqui alguns momentos "sui generis" de uma figura absolutamente "sui generis".
Um dia, durante o decorrer de uma aula, num momento de relaxe, Isolino, que adorava chocar os interlocutores, contou-nos uma anedota inesquecível:
- Era uma vez um rapaz tão porco, tão porco, tão porco que ganhava entre os dedos das mãos aquelas bolinhas pretas que nós ganhamos entre os dedos dos pés!!
Caros amigos, era ouvir as meninas enojadas aos guinchinhos de exclamação e os rapazes (a maioria) escangalhados a rir...
Isolino gostava de traçar no quadro o retrato de Camões, o qual saía das suas mãos em breves instantes. A seguir, Isolino Vaz apresentava-nos com eloquência, voz de trovão, o maior poeta português: Luís VAZ de Camões. Isolino Vaz era tão narcisista, mas também irónico, que soletrava aos berros o nome VAZ, desprezando completamente o nome Camões, que apenas sibilava. Afinal, seria Isolino VAZ parente de Luís VAZ de Camões, ou o nome VAZ só dá génios?
Por vezes, naqueles momentos para acicatar os ânimos, de puro gozo pessoal, buscava nas entranhas dos seus brônquios o que de mais denso eles segregam e vomitava o resultado pela janela fora, apontando a, pelo menos, um metro de distância. Imaginem, mais uma vez, as reacções!!!
Há coisas que só a alguns são permitidas. Há coisas que só alguns fazem com inteligência. Mas também têm de ser vistas com inteligência.
Contar estes episódios a frio pode ter um efeito estranho. Mas acreditem, quem não conviveu com ele, que personalidades ácidas, críticas, capazes de incomodar tudo e todos, geniais como Isolino Vaz, fazem mesmo falta. Mas fazem mesmo, mesmo, os marotos... E, em nome dele aqui vai uma cuspidela de despedida, como quem lança a toalha ao chão, com irreverência, por querer mudar o mundo.

Artur G.

Rui disse...

Muito bem.
Sumarenta memória, Artur. Sim senhor.
Traz a toalha mais vezes :)

Mónica (em Campanhã) disse...

vocês vão-me desculpar mas não resisto a destoar desta memória aqui trazida do IV. não o comento como pintor, evidentemente, mas como professor tirano e ridículo: eu era só uma aluna, que nem apreciava os quadros que ele nos impigia a toda hora como obras de arte suprema, e não me lembraria então de o considerar à luz da condescendência que habitualmente se concede às bizarrias dos artistas. mas o Artur não contou que IV não contava só anedotas de porcos, ele representava-as: abria uma janela da sala de aula, afastava-se dela uns bons metros e escarrava habilmente para exibir a sua pontaria. a sala era num 1º andar e se alguém fosse a passar lá fora no meoneto, paciência. quando fazíamos muito barulho, com uma régua T deitava abaixo um daqueles estiradores que deixavam o seu tampo cair. ainda hoje não consigo deixar de ficar enjoada ao lembrar como ele se encostava à Cristina C, então a mais bela e adulta figura feminina da turma, tomando-lhe a mão e fazendo-lhe o desenho com o seu próprio traço.

mas a pior memória que tenho desse professor não tem a ver com excentricidades mais ou menos badalhocas, tem a ver com tirania mesmo. eu estava no 8º ano e escrevi um texto sobre ele no Ping Punk, assinado, claro. o artigo aborreceu o senhor, até houve um conselho de turma e um dia ele meteu-me dentro da sala dele e convenceu-me a assinar uma retratação. eu assinei (acho que foi depois desse dia que me tornei irredutivelmente desconfiada) sem saber, que esse era um método muito antigo, usado pelos tiranos mais conhecidos da história (quem mo explicou foi o prof de Físico-química que tb me chamou à sua sala e me explicou que nunca nos devemos assinar esses papéis, que isso é retratarmo-nos, uma coisa feia). eu só tinha 13 anos e senti-me perdida, a andar assim de sala em sala, de susto em susto, a perceber como é o mundo dos adultos.

só tinha a certeza que "não há machado que corte a raiz ao pensamento" e, como o que escrevi no jornal era verdade e já estava escrito, tanto fazia. hoje percebo em toda a sua dimensão a gravidade desse gesto de um prof tão irreverente e tão intolerante. claro que a coisa não acabou por aqui: no final do 3º período tive um 2 a desenho e por isso tive de ir a exame (na altura havia exames caso não somássemos uma determinada quantia com as notas do 3º período ou, como me aconteceu, se a somássemos mas tivéssemos uma negativa que fosse). como o exame não era corrigido por ele, tive 4, mas isso foi um pormenor.

desculpem o azedume mas este episódio marcou a minha vida e hoje ainda tremo só de me lembrar.

Rui disse...

Que coisa horrível, M!

Anónimo disse...

É verdade, sou testemunha. Recordo-me bem da tua crispação, que era mútua, de resto, para com IV. No entanto, tu, tal como eu aliás, e sabes bem disso,facilmente criávamos forte empatia com os professores ou, ao invés, tremendo choque. Tínhamos presenças fortes, éramos bons alunos e muito bem "constituídos". Já agora, esse espírito era patente entre nós os dois através de frequentes discussões e picardias que tínhamos nas aulas, lembras-te?
Quanto ao IV, também foi ponto de discórdia entre os dois. Lembro-me de falar com o Camné e com o Neos sobre isso.
Quanto à Crisitna, ficavas mais preocupada tu do que a própria!
O IV tinha um comportamento comigo muito simpático, julgo que te lembras, e nunca tive nada a apontar-lhe. Ele conhecia a minha família e talvez por isso fosse mais agradável comigo, como aconteceu com outros professores, ainda que erradamente.
Por mim, sempre descontei algumas palhaçadas que fazia que me pareciam mera fanfarronice sem consequências. Ele sabia que assustava alguns mas que não tinha efeito algum sobre outros. Acho que tinha bom coração.
E tu, às vezes, também tiravas as pessoas do sério.
Não me lembro do fenómeno da assinatura mas também acho-o ridículo e demasiado mesquinho.