terça-feira, 31 de março de 2009

António Reis

Esquecimentos – Será que o foram?

Por Rui de Castro

Passou no dia 11 de Setembro o nono aniversário da morte do Poeta Cineasta António Reis, valadarense ilustre que, talvez porque sua terra dele injustamente se esqueceu, se esqueceu também dela, na medida em que, de há décadas, não tínhamos o prazer de ver por Valadares o "Toninho" Reis como por cá era conhecido em seus verdes anos.

António Reis viveu a sua meninice e juventude numa casa que existiu defronte do campo de jogos do Futebol Clube de Valadares, adjacente à antiga "loja do José Ribeiro" e no local onde depois foi construído um prédio que alojou uma barbearia (Albino Azevedo e Manuel Teles) e uma mercearia (Joaquim Nogueira da Rocha e actualmente a família de Ernesto Tavares).

Hoje o "Toninho" Reis seria considerado uma criança sobredotada. Ainda na Escola Régia, já os colegas, por dois tostões, podiam ver filmes mudos passados em máquinas de projectar por si construídas. E isto parece que diz tudo quanto à sua tendência para a arte cinematográfica e também para a arte nas suas diversas manifestações, sendo de realçar a poesia, também a eleita do seu coração, através da declamação que fazia primorosamente e, ainda, da publicação de uma vasta obra poética do maior nível artístico.

Sabem todos os valadarenses - ou se calhar nem o sabem - que os poetas Ary dos Santos e Adriano Correia de Oliveira, dois grandes artistas, sem dúvida, têm os seus nomes perpetuados em ruas de Valadares, mas não conseguimos compreender como é que um filho da terra, com o nome de António Reis, esqueceu aos responsáveis por estas "ninharias" da cultura e da justiça que deviam prestar homenagem aos filhos de uma terra que em vida a souberam dignificar. Ainda está a tempo. Será que Ary dos Santos sabia onde é Valadares de Gaia?

Talvez venha a talhe de foice e por idênticas razões atrás apontadas, referir que Guilherme Camarinha, um artista plástico de nível mundial que nasceu em Valadares, embora pouco tempo cá tenha vivido, não tenha ainda merecido uma qualquer referência na toponímia local.

Mas há mais! Muitos mais! E nisso haveremos de falar proximamente.

Valadares está inçada, pelo menos na zona litoral, por nomes de navegadores. Facto que, se é como é, muito louvável, enferma, no entanto, pela sua demasia e falta de sentido local, parecendo-nos, por isso, que deveria ser assunto a rever. Só de Vasco(s) da Gama... é uma fartura!”.

Inicialmente publicado em Orfeão 8 (Janeiro de 2001), Valadares, Orfeão de Valadares, p. 6.

11 comentários:

Rui disse...

Obrigado, Sérgio.
Gostei muito de ler este artigo. E só posso concordar com a crítica que é feita.
O António Reis foi meu mestre em Lisboa. Para além das aulas, costumavamos ir à cinemateca e tomar café depois de jantar numa pastelaria perto da casa dele com muita frequência. Ás vezes dizia-me: "Ruizito, um dia metemo-nos no comboio e vamos os dois incógnitos a Valadares". Ele já não ia a Valadares há décadas e, talvez para fazer as pazes com a terra natal, via nessa cumplicidade de conterrâneos de uma terra pequena a oportunidade para o fazer. Infelizmente faleceu antes dessa viagem e de cumprir a visita a alguns lugares que imagino que hoje nem sequer existem (como o moínho de àgua ou o sítio a que nós chamavamos a "aldeia").
Custa-me sabê-lo ignorado na sua própria terra. Custa-me saber que existe um cinema (penso que com alguma programação cultural) em Valadares e que não se tenham nunca lembrado dele ou de um outro frequentador de Valadares: nem mais que o próprio Aurélio Paz dos Reis, o "pai" do cinema português. Custa-me.
Nunca soube porque é que o António Reis saiu de Valadares e nunca mais lá quis voltar a não ser no seu último ano de vida (talvez nem sequer isso tenha comentado a não ser comigo). Seguramente lá teria as suas razões...

Rui disse...

Amigos,
se por um mero acaso um dia se cruzarem com um livro de poesia do António Reis podem comprá-lo para mim?

Artur G. disse...

Por coincidência, há poucos dias lembrei-me de António Reis e do artigo de Rui Castro publicado na "Orfeão8".
É triste perceber que muitas pessoas com responsabilidades não sabem que cidadãos como António Reis tembém nascem ou nasceram em Valadares.
O poema de sua autoria, denominado "Grito" e publicado na revista é, a meu ver, lindíssimo. Já o recitei na Biblioteca do Orfeão com muita emoção.
Havemos de voltar a falar de António Reis.

disse...

Rui,
por mim "escusas de estar descansado"!
Tenho por hábito e gosto frequentar sítios onde há livros. Antigos, modernos, para vender ou para ver. Não resisto. Dá-me prazer vê-los folheá-los e, por vezes, comprá-los. Ontem entrei num "prego" pela primeira vez em muitos anos (a última tinha sido para ver uma guitarra eléctrica, Gibson - afinal falsa - com o Sérgio).
Entrei porque passei e me tentei a ver se tinham livros... (nada de especial, mas uma bicicleta por 45 euros chegou a tentar-me...)
Descansa que eu não descansarei antes de encontrar-te a poesia de António Reis. Esse conhecido / desconhecido que, querendo ou não querendo, a partir de ti, faz agora parte de nós.

Sérgio R disse...

Rui, o prometido, ainda que atrasado, é devido.

Jó, a Gibson era verdadeira... hoje sei que sim porque já vi outras iguais!

Malta, os livros do António Reis são seguramente raridades!

agudabá

disse...

Rui,

Hoje fui a dois dos alfarrabistas que frequento.
O segundo não tinha nada, mas o primeiro (bom, mas careiro...) tem cinco livros de poesia do Antonio Reis.
O Sr. Chaminé, da Rua das Flores, conheceu pessoalmente o António Reis e tem uma enorme admiração por ele. Falou-me da excelente declamação que ele fazia dos seus poemas. Disse-me que ele viveu no Candal.
Não me vendeu nenhum dos livros porque quer fazer-lhe uma montra de homenagem, na série "excelentes poetas desconhecidos" que tem feito. Como lhe falta o primeiro livro ("Chama") ainda não a montou. Espera um contacto do irmão do António Reis para colmatar esta falha.
Falou-me também de um documentário que ele fez sobre o Douro ou Trás-os-montes.
Prometeu que me vendia os livros depois da tal homenagem.
Fiquei ainda mais amigo dele (do António Reis, que não conheci). E peço-te, em troca dos livros que te compro com gosto, para me pores a ver um dos filmes dele. De preferência na tua companhia e com as tuas observações.
Abraço

Rui disse...

Fantástico, Jó!
Terei o maior dos prazeres em fazê-lo.
Não tenho, nem conheço ninguém que tenha nenhum dos filmes em dvd ou coisa parecida (para já não dizer que não é a melhor forma de ver os filmes, mas penso que esse é um comentário escusado).
Assim que vir uma oportunidade combinamos.
Recentemente estive em Paris e em conversa ocasional cruzei-me com admiradores franceses do trabalho do Reis. Santos da casa não fazem milagres, já sabemos.

Artur Gandra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Artur G disse...

Espero que me convidem para a exibição... e para a companhia, naturalmente.
Até pode ser em minha casa.
Aliás, porque não, um dia recriarmos em minha casa um ambiente anos 20, 30, 40 de Valadares (ou outro sítio qualquer). Seria bem possível, ainda por cima com um cineasta de qualidade entre nós. Acho que a minha casa, a do Castro Portugal, vulgo sede, a casa do tio do Jó e outras davam um fantástico ambiente sem grandes dificuldades. Era só pormos uns bigodes, enfim uns adereços interessantes e por-mo-nos à conversa, recitar umas poesias, tocar umas músicas, até podíamos beber um Porto à maneira...
Fica aqui a ideia... espero comentários...

Ana disse...

Viva,

Sou a Ana, filha do António Reis. É com muito gosto que leio este sentido artigo, gostava muito também de poder localizar os livros de poesia - os Poemas Quotidianos I e II e as Chamas. Agradeço! Posso responder através de a.cord.reis [@] gmail . com
Felicidades

ACR

Anónimo disse...

Interessados na obra de António Reis, poderão encontrar as suas primeiras obras na livraria Manuel Ferreira no Porto. Verdadeiras raridades!