Há uns anos circulava no meu carro a uns 20 à hora numa confusão de trânsito na estrada velha para Espinho, onde é a academia de música do Hugo. A certa altura apercebo-me de um homem a correr ao lado direito do meu carro com um pequeno saco na mão. À medida que o trânsito ía avançando parecia-me que ele tentava apanhar uma camioneta que ía um pouco mais à frente naquela confusão. O homem era quase atropelado porque a camioneta preparava-se para virar à esquerda para Cadavão (antes da Quinta da Formiga) e ele teve de cruzar enviesado o trânsito todo.
Tinha um ar magricela e notava-se que a corrida lhe estava a custar. Quando o apanhei de novo do lado direito da estrada aproximei-me já com a janela aberta mas ele nem reparava em mim. Tive quase de lhe encostar o carro para lhe oferecer boleia sempre em andamento. Ele lá parou e respondeu que tinha que apanhar a tal camioneta.
“Entre” disse-lhe eu. E num estante apanhámos a camioneta seguindo-a até à primeira paragem. Durou uns 3 minutos, talvez.
Explicou-me apressadamente que a filha dele ía naquela camioneta com a ex-mulher e que ela não o deixava vê-la há uma série de tempo (ele disse-me quantos dias mas não me lembro).
Era de certeza alguém que trabalhava na construção civil. Tinha as calças sujas de cimento ou tinta, não me lembro bem. A camisa e os sapatos eram “novos”. Lembro-me de pensar que aqueles sapatos não ajudavam nada à corrida naquela velha estrada de paralelo grosso. O saco de plástico que tinha na mão devia ser a restante roupa do trabalho.
Deixou-me apressadamente saindo pela porta fora para acabar a corrida, agora mais curta. Disse-me que ela morava logo alí e que mal entrasse em casa já não conseguiria ver a filha.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
A chegar a Cadavão
Posted by Nossa at segunda-feira, julho 07, 2008
Labels: coisas da zirga, twilight zone
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4 comentários:
Nao estou com tiques literários. Mas tinha que vos contar estes pequenos episódios twilight zone.
Obrigado por partilhares.
Eu cá, acho estes nacos de vida uma delicia!
podia bem ser o princípio de um filme
A sensibilidade em tipos rudes é uma coisa magnífica. Uma vez assisti a um telefonema delicioso. Um mecânico que eu conhecia como um bruto e que estava connosco no rally dos açores, ligou à família (mulher e filha adolescente) para a encher de beijinhos e a dizer que estava a morrer de saudades. Até senti um nó!
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