segunda-feira, 7 de julho de 2008

É para comer...

Ontem de manhã, regressados de uma surfada, vi uma pessoa empoleirada num muro das traseiras de uma casa. Essa pessoa parecia tentar entrar sorrateiramente por entre os ramos de uma árvore no jardim.

Fizemos marcha atrás. Quando parámos a pessoa vira-se para nós e tentando desculpar-se com um sorriso amedrontado pergunta devagarinho tentando desesperadamente recolher alguma compreensão: “são vossos amigos?”.

Pareceu-me que a árvore junto ao muro alto onde se equilibrava podia ser de frutos e perguntei-lhe: “É para comer?” Ele não deve ter ouvido à primeira tal era a ansiedade. Perguntei de novo: “É para comer? Ele acena com a cabeça dizendo que sim e mostra mais uma vez devagarinho uma saca onde já teria alguns frutos. Mantinha aquele sorriso amedrontado. Tinha os olhos e o cabelo escuros. Conhecia-lhe a cara de algum lado e o V. também. Era da nossa geração e devia portanto ter uns quarenta.

Aquele olhar amedrontado ficou-me na memória e incomoda-me por isso deixo aqui escrito para ver se divido convosco.

3 comentários:

Rui disse...

Percebi que não é bem o caso...
mas faz-me lembrar aquela sensação incómoda quando sentes numa situação semelhante que PODIAS SER TU.

Rui disse...

"Fruta para comer"

Parece o título de um jornal desportivo na actualidade.

Mónica (em Campanhã) disse...

há tempos apanhei um casal cinquentão de aspecto respeitável, numa cena semelhante, mas sem o ar amedrontado. puxavam da rua, selvaticamente, os ramos dum magnoreiro carregadinho de fruta. puxavam com um ar de direito e posse, como se aquilo fosse deles ou de todos os que passassem. fiquei a olhar de propósito, como quem pergunta "mas, não têm vergonha?". continuaram. vergonha não tinham certamente.

esse caso que contas incomoda de outra maneira. acho fabuloso é que tu perguntes, fales com as pessoas assim na rua (como no post acima). é uma espécie de generosidade que não consigo ter mas acho muito bonita.