Soube ontem. E fiquei triste.
Não é comum nestes lugares falar-se de padres para dizer bem. É mais normal dizer mal. Mas deste homem, deste Padre, dá-me para dizer bem. Porque era amigo dele e aprendi coisas com ele. E nunca me pediu nada. Era transmontano como as minhas costelas do lado do coração.
Há vários anos que não via o Pe. Viriato.
Foi professor de moral de alguns de nós da ESV no início dos anos 80.
Também o recordo por isso, mas é mais por outras coisas menos comuns na altura, como andar a jogar à bola connosco no recreio e falar com toda a gente. Para o futebol trazia equipamento e tudo. Era baixo e tinha as pernas curtas, mas corria que se fartava.
Lembro-me que a certa altura organizou e dirigiu um coro lá na ESV que ensaiava ao sábado de manhã. Nunca fui, mas estava na escola porque tinha aulas e via a malta desse coro a dançar e a cantar. Contentes.
(Era uma coisa estranha haver um coro na escola e haver quem gostasse de participar. Na altura a malta tinha a mania... e se não queria passar por "cartão", curtia era "Stones", "Van Hallen" ou David Bowie... [porque é que não se usa o artigo definido antes dos nomes dos músicos pop? a malta foge destes artigos, como da sarna! porque não se diz "os Stones" e se diz só "Stones"?] isso do coro...)
O Padre Viriato adorava a música e também tocava órgão. De uma forma exuberante e cheia. Preenchia imenso o contraponto. De resto, parece-me que era uma das coisas que fazia permanentemente. Encher o espaço onde estava. Com histórias e conversas. Conseguia ser tudo menos chato. Como padre era um entusiasta. Como pessoa, o melhor que se pode dizer é que tinha amigos de todo o tipo em todo o lado. E isso diz muito.
Era culto e cultivava o saber.
Aprendi muitas coisas com ele a ouvi-lo falar. Uma vez num discurso explicou o significado do verbo "recordar". Do latim "corde" = "coração". Dizia ele bem humorado: "re-cordare" é "guardar no coração".
Aí está.
Requiem in aeternum
Viriato Matos (1938-2009)
3 comentários:
O padre Viriato é das únicas (e são menos que duas), recordações positivas que tenho da santa igraja católica. E mais não digo. Paz à sua alma.
Já estamos naquela altura incómoda de ver partir aqueles que foram as raízes, ou os troncos, dos frutos que vamos dando.
Recordo o prof de moral. Talvez tenha sido dos poucos padres que gostei de ouvir. A última vez que o vi foi num almoço, há alguns anos, na Ostalina (tinha qq a ver com o orfeão).
Era boa pessoa e, embora pequeno, corria de caraças... uma vez jogamos futebol num retiro no saminário.
Sit Tibis Terra Levis.
andava eu por aqui a matar saudades da escola secundária que ajudei a inaugurar no final dos idos anos 70 e dei com o vosso blog.
Fui aluno de moral do Viriato e joguei futebol com ele e vejam só... até cheguei a fazer um retiro mais ou menos compulsivamente no seminário de valadares pela mesma altura.
Nunca fui muito católico e agora sou agnostico de todo mas o padre Viriato era um companheirão... fico com pena pela sua morte.
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