quarta-feira, 7 de outubro de 2009

não entendo

Aqui pode-se escrever do que dá na bolha.
Por isso escrevo sobre política. Para me pôr a mim próprio uma interrogação.
Ando a pensar no mundo e sei que ele é assim. Não o desculpo mas compreendo-o.
As pessoas é que não as compreendo mas desculpo-as.
A minha interrogação é para mim. A minha dúvida é só minha.
Para ver se percebo o que ainda não percebi e para desculpar o que não sei desculpar.

Não fiquei impressionado com o resultado eleitoral.
Fiquei impressionado com a tua opção eleitoral.
Não deixei de me interrogar sobre o que te teria levado a tomar tal decisão.
Cheguei às minhas conclusões. Que são as minhas interrogações.
E não consigo ver mais do que o fascínio e a hipnose pela platina capilar e pela gravata monocromática. E as mãos a abanar, a voz a vender banha da cobra, cheia de confiança e estilo sério, e mentira dita com olhar de verdade.
Não acho estranho que a mensagem passe.
Tantas pessoas estão prisioneiras de 200 euros por um bébé com 20 anos... Não acho estranho que a propaganda de magalhães, que vinga entre ditadorzecos sul-americanos, não vingue também na terra onde trinta dinheiros valem um bilhete para o toni carreira. Na terra onde o cheiro a crise sai pela comunicação social apenas fora do período eleitoral. Porque a memória é como um gelado de verão. Saboroso, inofensivo, barato, de cabelo platinado e voz calma e melosa que nos promete quinhentos euros no natal ou uma promoção no emprego. Derrete-se à medida que nos dá prazer. Dá-nos prazer à medida que se derrete.
A memória é uma doença, nestes tempos. Uma espécie de gripe A, só que menos barulhenta. Que faz muito mal e só ataca alguns. Que não têm regras desenhadas à medida de uma "reforma" e de ser de "esquerda moderna".

Lembrou-me agora a canção do Sérgio Godinho por causa do refrão... é certo que a miséria - agora - é mais do espírito que da boca. Essa, a boca, enquanto houver Lidl aberto ou governo socialista, sempre tem onde ferrar o dente...


Numa ruela de má fama
faz negócio um charlatão
vende perfumes de lama
anéis de ouro a um tostão
enriquece o charlatão

No beco mal afamado
as mulheres não têm marido
um está preso, outro é soldado
um está morto e outro f´rido
e outro em França anda perdido

É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra

Na ruela de má fama
o charlatão vive à larga
chegam-lhe toda a semana
em camionetas de carga
rezas doces, paga amarga

No beco dos mal-fadados
os catraios passam fome
têm os dentes enterrados
no pão que ninguém mais come
os catraios passam fome

É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra

Na travessa dos defuntos
charlatões e charlatonas
discutem dos seus assuntos
repartem-se em quatro zonas
instalados em poltronas

P´rá rua saem toupeiras
entra o frio nos buracos
dorme a gente nas soleiras
das casas feitas em cacos
em troca de alguns patacos

É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra

Entre a rua e o país
vai o passo de um anão
vai o rei que ninguém quis
vai o tiro dum canhão
e o trono é do charlatão

Entre a rua e o país
vai o passo de um anão
vai o rei que ninguém quis
vai o tiro dum canhão
e o trono é do charlatão

É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra

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