domingo, 3 de dezembro de 2006

a rádio caos

foi uma época louca, a das rádios pirata. qualquer um podia comprar um emissor e meter-se a fazer rádio. na rádio caos, que emitia de um andar na praça da república, no Porto, floresceu o génio criativo de A da Silva O (ou António S Oliveira) que, rodeado de outros mais ou menos génios e mais ou menos cromos, conseguiu manter uma grelha de programação original, densa, simultaneamente divertida e esotérica.

todas as sextas à noite lá nos metíamos a caminho com os nossos LP debaixo do braço e nos bolsos uns textinhos para ler no intervalo da música (que, por ser sagrada, nunca era interrompida nem se falava por cima dela). aliás falávamos pouco, devotos do Morrison Hotel e já então cheios do ruído de que se fazia um certo tipo de rádio: "fique connosco até às oito" e pouco mais. a espaços, dizíamos o que vínhamos passando "temos estado com os Clanad, do album Macala, os Cocteau Twins, do album Teasure e os Smiths, do album The Smiths". a certa altura até tínhamos um jingle de abertura e fecho: sobre um tema instrumental (de uma das bandas da 4AD) divagávamos "nenhum passado é mais aleatório do que este".

no intervalo entre 2 programas a própria rádio lançava a sua própria publicidade "alugamos ideias, promovemos espaços, apoiamos iniciativas" e o sinal horário era único: "nós furamos o tempo, somos rádio caos, 93 ponto 4, do outro lado do fm".

estar no ar, prepararmo-nos para isso enquanto vivíamos, estruturarmos o que queríamos que se ouvisse, e, naquela hora, lançarmos tudo no éter sem saber ao certo para quem e com a noção de sermos escutados por uma improvável meia dúzia de pessoas, dava uma pica que se assemelha, na sua essência (já o disse antes), a isto de ter um blog.

7 comentários:

Mónica (em Campanhã) disse...

rui: estive lá entre final de 86 ou início de 87 e 88 (em 89 já não encontro vestígios nos meus arquivos). se ampliares a grelha de programação vês lá o nome do Paulo, em horário nobre, mas o teu não... deve ter sido antes.

por acaso sabes como é que hei-de passar a digital uma k7 velhinha que cá tenho com uns excertos do programa? já mal se ouve e qualquer dia fico sem nada...

Sérgio R disse...

Tive o enorme prazer de ter ido lá pelo menos uma vez com o Rui, num dia em que o Paulo G não foi. Levei os meus discos e lembro-me que uma das músicas que pus foi "father of night, father of day", de Manfred Mann. Não devo ter posto muitas mais porque nessa altura em que os LP's custavam entre 150 e 300 paus, eu tinha poucos muito poucos...

Rui disse...

Tenho de refazer as minhas contas (logo hoje!!!!).
O horário do teu programa é o mesmo do "Ondas e Naufrágios" (ou então o nosso seria das 23h à meia-noite). O que significa que, para não nos termos cruzado, terão começado (nesse horário, pelo menos) depois da minha saída. O que terá ocorrido mais cedo do que o que recordava.
Salvo erro mantinhamos esse horário desde os tempos das instalações da Rua de Santa Catarina.
Também sinto saudades das emoções de fazer rádio. Foi realmente uma experiência muito gratificante, mesmo (e sobretudo) por não saber se seriamos escutados por muitos ou poucos e por não lhes vermos os rostos.
Tive a tremenda sorte de, por duas vezes, ouvir comentários aos programas da véspera por pessoas que não me conheciam. Foi muito fixe ouvir. Mas de qq forma não era verdadeiramente a receptividade que nos fazia correr. Era outra coisa muito menos causal quanto ao estímulo e mais de recompensa imediata. Talvez mesmo aquilo a que chamam (eu queria evitar!!), naquela expressão arrepiante que faz lembrar o Fernando Sala: "A Magia da Rádio". Blaaaargh!! Que arrepio. Dizer isto é pior que chupar um limão!!!...

Rui disse...

Quanto às k7s:
estou com o mesmo prob.
Tenho não só uns programas dessa altura que gostava de "salvar", como uns concertos e ensaios dos BKC de que apenas existem essas gravações.
Sei que arranjarei forma (na verdade é só aplicar-me um bocadinho na coisa). Mas para já não tenho maneira.
I'll keep you posted.

Nossa disse...

DIY k7 velhinha...
Eu andei a passar uns LPs do Paulo G para digital ligando o prato e o amplificador à minha placa de som (igual à placa de som de todos nós).
Asim, acho que o mesmo se passará com o leitor de K7s

... ...

A Rádio Caos... passei por lá, a convite do Paulo.
Acho que a escutava também com o Sérgio no sotão dele.

Mónica (em Campanhã) disse...

Jó, tenho um Nakamichi (que é o meu orgulho e está encostado) e um computador. só me faltam os tais cabinho e programinha... portanto dependo de ti: set a date!

Mónica (em Campanhã) disse...

Luís, do meu deck e amplificador só saiem umas "bananas" que não cabem em nenhuma entrada do meu computador. Será k me falta apenas o tal "cabinho"? Vou averiguar aqui numa loja da área. obrigado pelas dicas.