segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Primeiro-ministro mais sortudo do Mundo

Todos sabemos que os regimes políticos mais ou menos transparentes, mais ou menos opacos, sempre usaram manobras de diversão para desviar a atenção dos cidadãos – sobretudo, dos cidadãos comuns – dos acontecimentos que pudessem comprometer o Poder. Veja-se o caso clássico das ditaduras sul-americanas de esquerda e de direita: recorreram sempre a uma lógica deste género para oprimir, entorpecendo a consciência política do povo com futebol, com sambas, com carnavais e outras tretas.

No Portugal contemporâneo estes mecanismos de distracção social são igualmente uma evidência, com a agravante de estarem a surgir por “dádiva divina”! Ora vejamos. Quando no ano passado o governo de Sócrates se confrontou com as primeiras consequências das medidas catastróficas (sobretudo para as PMEs e pequenos investidores) que puseram em prática no mandato anterior, surge, por “dádiva divina”, a crise mundial. Logo as atenções são desviadas do contexto doméstico para o contexto internacional. Os responsáveis por tais medidas ficam incólumes, escudando-se por detrás de um acontecimento sobre o qual não têm qualquer responsabilidade. Do “a culpa é do Sócrates” passa-se ao “a culpa é da crise”. Problema resolvido!

Outro milagre. Nos dias 19 e 20 de Fevereiro deste ano, o mau tempo encarrega-se de levar o caos à Madeira. Ora, tal evento climático não podia ser mais bem-vindo: Alberto João, que tão grande desdém havia mostrado pelo PM, acaba por lhe dar beijinhos e abraços, rendendo-se aos milhões que Lisboa mandou para o Funchal. Lá saiu mais uma pedra do sapato de Sócrates.

Entretanto, na Islândia, uma congeminação de Vulcano faz com que a terra comece a cuspir para o céu toneladas de poeiras, provocando o cancelamento de um número assustador de voos. Milhares ou milhões de pessoas ficam retidas nos aeroportos, entre elas o nosso PR. Numa altura em que o Primeiro-ministro se vê novamente confrontado com a questão da oportunidade do TGV, este acontecimento cai mesmo na mouche: é óbvio que a alta velocidade é fundamental para nos ligar à Europa, principalmente quando os vulcões atacam!

Já no Sábado, 19, num ambiente de incandescência e de tourada entre parlamentares por causa do relatório sobre compra da Tvi pela Pt, José Saramago, seguramente contra a sua vontade, morre. O Primeiro-ministro, finalmente chamado de “mentiroso” (e não de “dizedor de inverdades”, que é a mesma coisa, apesar dos deputados da nação acharem que não é!), consegue assim dissimular-se face aos olhares de alguns portugueses que estavam à espera do desfecho da coisa. É certo que a discussão vai continuar, mas será seguramente mais morna…

Se os santinhos continuarem a ajudar, Portugal vai ser rapidamente eliminado do campeonato do mundo de futebol. E enquanto se discutem as razões do fracasso – no formato “novela futebolística” – ninguém vê mais nada. Nem mesmo aquelas mãozinhas que dia-a-dia vão entrando nos nossos bolsos.

É caso para dizer: Senhor Primeiro-ministro, no mínimo há que ir a pé até Fátima!

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